Um Abismo

terça-feira, agosto 22, 2006

Enquanto os pássaros se afastam

Tenho uma resma de papel para te oferecer
com muitas saudades e paisagens de chuva e
gritos acetinados; tenho-me para ti,
para me levares ao mar e me lançares
um abraço pouco apertado.

Também fiz um gelado, para sorvermos
na praia, enquanto os pássaros se afastam
despois de nos roubarem a roupa.

E já sinto frio e ouço
a gargalhada de pudor
ao regressarmos nus a casa.

segunda-feira, agosto 21, 2006

Mesa de café

Outra vez na mesma praia de Copacabana, exíguo quadrado
onde nos sentámos em esquina: olhos nos lábios,
lábios nos olhos, coração no coração.
Deste primeiro encontro retiro o suco - alabastro
das veias. É a respiração
ofegando memórias.

Troco-te por esfinges à entrada das pirâmides.
Intriga barroca. Fresca
festa do poema.

sábado, agosto 19, 2006

Proximidade

quem me dera setembro
e os seus ventos verdes e
quem me dera os teus dedos
e os meus cabelos neles

quinta-feira, agosto 17, 2006

Verão

o meu caminho é o meu ninho.
durmo nas paredes mais largas, cubro-me
de folhas que sobraram à última estação, sento-me
em sobras de troncos, respiro
a aragem deixada pelo voo dos pássaros
e vivo.

Estou só e ferida.

Os gatos arranharam-me numa brincadeira
preigosa, os pássaros debicaram-me
aflitos e tu não apareceste
para me salvar
da intensa exposição solar.

quarta-feira, agosto 09, 2006

Despedida

secaram os campos amáveis
da tua carne e agora
só posso chorar para que neles
nasça uma louca flor

terça-feira, agosto 08, 2006

não me suicido ainda porque te quero
ver vestido para o verão quero
medir o músculo escuro que te sobra
à camisa e passar a língua
na linha cortante dos teus dentes
brancos. Eu quero

os teus dentes brancos
para mim. Por isso deixa-me
esperar este calor onde aparecerás
vestido ou despido
de linho brando

Sobremesa

levas a colher à boca
eu acompanho o voo do gesto
imagino-me a caminho:
passo por dentro de ti
e fico

depois resta-te creme de chocolate:
passo os lábios onde passaste os lábios
já castanhos
e é o voo ao contrário

desta vez passas tu por mim
e ficas

quarta-feira, agosto 02, 2006

Esta noite

no meu sonho mais fresco
matei a fome
com o teu corpo
encantado