Se tu me fosses entreguenu e adormecido num chão de suores quentes
eu obrigaria o silêncio a poisar na tua pele escura
e junto aos lábios carnais - os teus lábios
são vinhas - recolheria o sopro respiração ofegante
de animal e dobrada sobre o teu corpo
entregaria aos teus sonhos a seiva
que me inunda de dentro
Se tu fosses vinhoe me fosses dado na taça das mãos
derramar-te-ia nos seios far-te-ia
correr no terreno muscular até entrares
no monte negro e te perderes no desfiladeiro
onde plantas línguas de vento
e ser-me-ia dado o mundo
para te viajar
Se tu fosses um menino acabado de nascere de mim fosses parido
lamberia os restos do meu ventre
na tua primeira pele
o meu colo aquecer-te-ia nu
e logo o meu seio se derramaria na tua boca
o meu sangue correria das pernas louco
louco por te levar outra vez à gruta mãe
E se fosses um gatoum bicho louco nas minhas rochas
dar-te-ia a secura da pele
onde anotarias pássaros selvagens
novelos de terra e eu
cobra na tua sombra gritaria
à lua correria
e atiraria contigo
às sobras florestais do meu corpo
até ser um sulco na fúria das tuas garras
Mas se fosses o que ése me fosses dado eu queimaria papiros
far-te-ia um ninho e não sei que poemas
alegres cantaria aos teus ouvidos
Ou se fosses o últimohomem do meu tempouma tempestade de estrelasanónimas um rio sinuoso do paraísoum rei moreno eu abririao coração à faca comeria baratasabateria a família a tiro e subiriaà pata os degraus para o infernoarfando no fogomastigando humilhações e vertendoum animal saciado